agora vou-te cortar a língua para aprenderes a cantar, adília lopes

domingo, 27 de dezembro de 2009

mares

Só o mar das outras terras é que é belo. Aquele que nós vemos  dá-nos sempre saudades daquele que não veremos nunca...

Fernando Pessoa. Marinheiro

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Ainda bem que o natal acabou | Carlos Alberto Machado


Ainda bem que o natal acabou

Ainda bem que o natal acabou
logo que soaram as doze
descolei os lábios da mesa
vomitei as doçarias todas
para cima das notícias
que anunciavam a morte
algures onde o natal
é regado com sangue

e as rolhas das garrafas
são tiros cegos e certeiros
matam velhos e crianças
em natal ou em belém
para o ano haverá mais 
se a dor aguentar até lá
nós aqui e eles no inferno
uma data é uma data
e é preciso comemorá-la

com sangue e com lágrimas
um dia os meus lábios
ficarão para sempre
agarrados à toalha de linho.



Carlos Alberto Machado
A Realidade Inclinada
Averno
2003

domingo, 29 de novembro de 2009

...happily ever after



"These works place Fairy Tale characters in modern day scenarios. In all of the images the Princess is placed in an environment that articulates her conflict. The '...happily ever after' is replaced with a realistic outcome and addresses current issues." Dina Goldstein


 


sábado, 7 de novembro de 2009

LAMINAGEM | JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES

LAMINAGEM

Um país agora este imenso aterro
teve alguma vez colinas e montados
onde o olhar demorava, adormecia
e seguia uma alegria viandante?
Ou gente que chegasse a qualquer mar
de que não quisesse logo fugir?
Só o pastoril decrépito o suspirava.
Teve o que todos tinham, em quantidade escassa,
até cobrir-se de desterro e de ilegais
e em pano de fundo esse lagar
de suicidas e débitos e primeiras segundas gerações.
A farpa de aceitação de quem consome
o sem destino da consciência.
Um país; tomou-se um assassino.
Vi verei os poucos verões até morrer
com este mundo de agressão em cerco.
Eu queria outro país, outro lugar
e tenho este infortúnio de leis amarrotadas
que não cumprem nem o violento nem o clandestino.
Um país de acasos,

um parque de campismo selvagem, um cimento apodrecido,
a música de sem abrigos nas estações de metro
enquanto não chegam comboios avariados
às plataformas de arte depredada,
um esboroamento sanguinário.
Até a linguagem que me ergueu
me sabe a sarro e a arrabalde.
Não fossem as obrigações que nos garrotam
nos fazem monstros com a lassidão de herbívoros
talvez pudesse ter o interior abandonado
e chegasse a faca do sol e me cortasse
noutra penúria mais serena.
Ainda que me digam que não olhe,
eu vejo. Ainda que me digam faz ginástica
e a depressão desaparece, nada me resolve.
Os ruídos sobem de qualquer lugar,
sintetizadores, martelos, desabamentos
uma percussão alheia a qualquer justiça.
Nenhuma janela que não fale
da construção administrativa dos piores instintos.
Todo o lixo do humano feito sebo
em qualquer lugar. Ainda que me digam
que vivemos em democracia eu digo
que não sei. Nem direitos nem deveres.
Um sem remédio ancestral.
Morreu a casa. Matou-a

O que lhe coube por contemporâneo
contra a placidez. Os autorizados
pelo conluio e pela votação.
Morreu a casa. E o pior
é não poder partir. Os laços
já se juntaram em anestesia. Preso
por outro amor, que não entende,
que não ouve como a casa já morreu.
A alguns vemo-los em qualquer pousio
Depois de fecharem as lojas
e nem se sabe o que vemos.
Aos balcões de cafés de azulejo,
com telemóveis pendurados nos cintos
e os cartões de crédito em dente na carteira.
Riem-se e batem nas costas
uns dos outros, entreolham e vigiam
se alguém diverso se aproxima
para largarem uma troça arcaica, e comem
com essa fome dos que não sofreram ainda
inquietações laborais ou crêem que virá
depressa o primeiro emprego. ..
Ao olhá-Ios melhor, aos seus afectos
de pessoal especializado em escuras economias
adicionais, vejo-os depois no verão.
Ao deus dará em todos os lugares,
em tendas velhas, em rulotes,
sabe-se lá onde vão cagar. E as mulheres
com os sinais exteriores da aspereza.
E as asas do inverno marítimo
auguram o aluimento.
Eu queria que na cabeça parasse
o furor de tudo o que tomba,
a derrota do dia a dia,
mas será sempre o cabide do tempo
quem estende as garras para nos alhear.
E os e-mail atravessam zonas sem remendo,
choças de tijolo com roupas a secar.
Assim armado o país.
As gentes em catástrofe deslocam-se,
deixam por testemunho o abandono e a inépcia.
Uma a uma, uma paisagem é trucidada.
Inchou a autarquias o país.
Atravessam-no a miséria e algum dinheiro
insolentes.
Um assassino
espreita outro assassino.
Os que destroem agora
podem exigir os torcionários que virão,
pois quem destrói pressente um chefe
e vai servi-Io.
E muitos hão-de sempre ser as vítimas
Da liberdade que consente a violência,
Da violência que não consente a liberdade.
Um assassino o país. Com as suas leis
Inúteis, a sua ordem por cumprir.

Só nos resta esperar então morrer?

Joaquim Manuel Magalhães

sábado, 24 de outubro de 2009

O macaco nas termas | Adília Lopes

O macaco nas termas

Era uma vez um macaco que era uma espécie de pega porque roubava coisas e que era uma espécie de cuco porque punha as coisas roubadas na casa dos outros e que era uma espécie de Cupido porque forjava enredos amorosos. E era uma vez umas termas cheias de velhos muito velhos. Assim o macaco roubou umas fraldas cheias de chichi a uma velha e foi escondê-las no quarto de um velho sem uma perna e sem outras coisas. Espalhou-se o boato de que os velhos tinham um caso e de que tinham tido uma aventura.

O macaco fazia isto com toda a gente, sem deixar ninguém de fora, por muito estropiado e desajeitado que estivesse. Assim o macaco encarregou-se da animação cultural das termas pois não há animação cultural sem animação amorosa.

E os velhos andavam radiantes, pois se não tinham o proveito tinham a fama.

Adília Lopes, in A Bela Acordada

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Poemas Novos | Adília Lopes

Em
cada dia faço
muito pouco

Mas
o pouco
que faço
não é louco

E
quando é louco
(às vezes é) que seja pouco

Que seja muito pouco

Adília Lopes

domingo, 4 de outubro de 2009

Adília Lopes

"Arrependo-me muito de ter deitado fora o filme que fiz em 74 com a Margarida Rainha dos Santos. Ela é que segurou na câmara Super 8 emprestada pelo Manuel João Ramos. Filmámos uma boneca de plástico comprada nos Armazéns do Chiado por 19 escudos. Filmámos a boneca a arder dentro da gaiola que já não servia porque tinha morrido lá um periquito com uma pneumonia. Reguei a boneca com álcool e deitei-lhe para cima um fósforo a arder. Depois afastei-me para a Guida filmar a queima da boneca sem eu aparecer no filme. Filmou-se a boneca a arder até a boneca deixar de arder por já terardido toda. Foi no terreiro em frente ao Observatório Astronómico em cima dum marco de pedra." Adília Lopes, in Irmã Barata, Irmã Batata

sábado, 3 de outubro de 2009

Os cordéis | Adília Lopes

Os cordéis


Passava os dias a dar nós em cordéis

para desfazer os nós a seguir

não tinha ninguém para a aplaudir

nem esperava Ulisses

mas continuava

aquilo não era um passatempo

os cordéis sem nós

serviam para desfazer os nós

enquanto os embrulhos trouxeram cordéis

as sobrinhas não estranharam

mas quando os cordéis se tornaram raros

lembraram-se de que ela na juventude

fora capaz de seguir cinco conversas diferentes

ao mesmo tempo

como Napoleão era capaz de ditar

dez cartas diferentes

ao mesmo tempo

só que a guerra e os bailes no consulado

tinham acabado

antes que ela se tornasse

uma grande espia

as sobrinhas convidavam forasteiros

e faziam cinco conversas diferentes

ao mesmo tempo

para a distraírem dos cordéis

mas os cordéis absorviam-na

nenhuma conversa lhe importava

as sobrinhas deitaram os cordéis fora

irritadas com aquela obstinação

ela passou a arrancar cabelos

e desfazer os nós dos cabelos

exige mais perícia do que desfazer

os nós dos cordéis

se fosse uma questão de vida ou de morte

seria como despoletar granadas

assim ela só podia perguntar

o que é mais fino do que um cabelo

para eu lhe poder dar nós?


Adília Lopes in Dobra

domingo, 6 de setembro de 2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Prosa | Régis Bonvicino

Prosa
Régis Bonvicino

Um poema não se vende como música, não se vende como quadro, como canção, ninguém dá um centavo, uma fava, um poema não vive além de suas palavras, sóis às avessas, não se vende como prosa, só como história ou arremedo de poema, não se vende como ferro-velho, pedaços de mangueira de um jardim, tambores de óleo queimado, sequer um pintassilgo, cantando no aterro de lixo ou a língua negra dos esgotos, que floresce algas, não se vende como grafite, não se vende como foto, vídeo ou filme de arte, não se vende como réplica ou post card, mau negociante de inutilidades, me tenha impregnado da praga das palavras

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A CORTINA DE FERRO | Adília Lopes

A CORTINA DE FERRO
Adília Lopes


Estive deitada

A Lua
varia
com o Sol
na razão inversa
do quadrado
da distância
e na razão directa
do cubo
do quadrado
do quarto
do quartzo
A fórmula
é engolida
de um trago
para o segredo
ser secreto

E eu vou
num voo
ter contigo
meu amor
longínquo
longitudes
e latitudes
estimadas

Marianna Alcoforado
sente-se 007
mas senta-se

Mulher-Cão | Paula Rego


A "Mulher-Cão é a coisa que eu tenho mais orgulho de ter feito, porque é uma mulher sozinha, mas que ainda morde. Uma mulher só, num canto, contra a parede, que não pode fugir, mas que arreganha o dente e que morde! Morde até ao fim, luta até ao fim, apanha pancada, mas lá vai lutando sempre! E depois, essa "Mulher- Cão" apareceu, "apareceu-me"! Essas coisas acontecem, não é? E então eu pensei, esta mulher vai levar-me a sítios onde eu nunca fui, vai ser o meu guia. E assim foi. E comecei através da "Mulher-Cão" a tocar partes da minha vida que eu não tinha tido nunca coragem, nem oportunidade de fazer, nem sabia como lá chegar. Mas com ela, lá fui fazendo: o "Bad Dog", a humilhação, o amor, a lealdade e a submissão cúmplice das mulheres, um certo masoquismo das mulheres, no amor e na traição … O casamento é uma espécie de mortalha, não é? É a "mulher-bicho" que tem força através da sua animalidade, é a parte física, dos instintos, que é muito importante! O silêncio tácito das mulheres, a sua "endurance" e o seu sentido de honra. (Paula Rego)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Enquadramento (uma questão de)


Aprender a amar a imperfeição, é o caminho mais fáil para ser quase perfeito.

domingo, 30 de agosto de 2009

A cultura

"A cultura serve para ministro, secretário de estado, directores-gerais, administradores da burocracia rentável, professores faculdadescos que distribuem por estruturas o sofrimento alheio. Pode até servir para dona de casa. Mas aos seus efectivos produtores bastarão os fármacos, o álcool, os narcóticos, o exílio, a cada vez mais extrema e final solidão se não tiverem sabido ou podido, prévia e previdentemente, sujeitar-se aos funcionalismos, às famílias. ao seguro de vida. E, pior' ainda do que pensar que se trata apenas de um caso do sub-desenvolvimento colectivo, começo a acreditar que será quase sempre assim. "

Joaquim Manuel Magalhães


sábado, 29 de agosto de 2009

c a s a | ADÍLIA LOPES

c a s a
por
ADÍLIA LOPES
Texto propositadamente escrito para a exposição e catálogo de desenhos de construção com casa . e céu de Carlos Nogueira.

«Casa» faz-me lembrar em primeiro lugar o Imperativo do verbo casar. Penso em Português. Imagino um pai tirano que aponta o dedo ao filho, estão pai e filho de fato completo escuro, e o pai manda:
– Casa!

É uma cena de palco velho com pó, que nada tem a ver com a casa atravessada pela luz de que fala o Carlos Nogueira.

A casa do Carlos Nogueira, para mim, é um espaço para rezar. Para pedir paciência e lágrimas. Porque podemos calcular as dimensões da mesa e da cadeira mas as recordações, as recordações do que foi e do que há-de ser, a angústia e a alegria, não as podemos prever, calcular.

Não me é possível falar das peças que vão estar na exposição sem ser sob a impressão muito forte do espaço em que as vi pela primeira vez: a casa do Carlos Nogueira.

Uma casa é só tecto e chão e o primeiro verso do poema de Sophia de Mello Breyner Andresen intitulado «Electra»: «Os muros da casa dos Manon escorrem sangue».

Sempre a casa são os laços de sangue e a burocracia associada ao sangue: as partilhas e não a partilha. Que a casa seja o lugar da renúncia às coisas inúteis. A casa ideal para mim é uma casa despojada de coisas. Poucos livros, poucos móveis e muitos gatos.

As cores do Carlos Nogueira são boas cores: o branco e a noite. E a forma é o paralelepípedo.

À volta há árvores, perto está o comboio e o mar. Podemos escutar o silêncio e a luz. Penso numa igreja, penso em arte sacra. O Carlos Nogueira pensou a casa dele e pensou as peças para a exposição como pensou a casa. Enquanto dispunha no chão os blocos de ferro e madeira, ouvíamos no gira-discos Maria Callas. Eu lembrei-me da Medeia de Pasolini, em que Maria Callas permanece muda para dar um grito e só ouvimos a sua voz ao dar esse grito – que não é voz, é grito.

Aqui tudo é ordem, mesmo o caos tem leis e sabe-se quais são. Há leis. Eu nunca penso a casa. O Carlos Nogueira pensa a casa. Planeia. Arquitecta. Eu vivo instante a instante, como quem vai a cair por uma escarpa e se agarra a tufos de ervas para não cair tão abruptamente. Não premedito. E, se medito, é com aflição. Para mim, a casa é construída de dentro para fora. Vim ao mundo na casa e a casa era o mundo. O Carlos Nogueira raciocina como eu imagino que um construtor de catedrais raciocinou. Eu não sou assim.

Falo em catedrais, mas devia falar em conventos. Conventos com celas. Se soubesse Biologia, falava em células. A casa é o quarto, o quadrado, o rectângulo, o cubo, o paralelepípedo. Um ovo também é uma casa, basta pensar em Brancusi. Uma célula, uma cela.

A casa é uma fortaleza como o convento e a catedral. É um espaço de segurança. Mas o abismo está lá. Vive-se perto do abismo. Convive-se com o abismo.

E é preciso pagar a casa e o abismo. A electricidade e o curto-circuito e as infiltrações de água e o incêndio e o seguro e a insegurança.

O que penso sobre estas peças que o Carlos Nogueira quer mostrar, e que tenho tentado fixar aqui por escrito, reduz-se ao título de um poema de Fernando Pessoa «A casa branca nau preta» e aos últimos versos do poema cujo título é esse: «A casa branca nau preta…/ Felicidade na Austrália…». Penso em Português e penso em versos.

A esgrouviada Marianna Alcoforado, a despassarada Marianna Alcoforado, melhor será dizer a apaixonada Marianna Alcoforado, que ama perdidamente como a Florbela Espanca dos sonetos, ia sentir-se bem nesta cela, nesta casa do Carlos Nogueira. Charneca em flor, charneca em fogo e um chão de ladrilhos pretos e brancos como um tabuleiro de xadrez. Deve ser bom ser inteligente e jogar xadrez aqui e tocar cravo e estudar Mecânica Clássica.

A janela devia ter grades como a do Convento de Beja de que os turistas japoneses tanto gostam.

A freira raciocina e apaixona-se. Não há calma nisto. Mas sem paciência não há ciência.

A casa é um espaço para rezar. Para pedir paciência, cinzas e lágrimas. Não há nisto luxo nem volúpia. E não digo sequer que haja beleza.

Na minha biblioteca baralhada, não encontro os poemas de Baudelaire. E estive a citar de cor um poema de Baudelaire, julgo que foi «O convite à viagem».

Da casa do Carlos Nogueira afinal nada sei, mas gostava de acabar de arrumar a minha casa. A minha casa é o convite a ficar, é o convite a não viajar. In Carlos Nogueira, desenhos de construção com casa . e céu, Almada, Casa da Cerca - CAC, Maio 2006, p. 48-53.

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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Acasos


Mesmo desfazendo-nos em acasos,
recuperamos lugares,
nunca a tempo.

AL
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Sinédoque, Nova Iorque


Sinédoque, Nova Iorque
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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Le Nez / The plastic surgery (Sophie Calle)


"When I was fourteen my grandparents suggested that I needed plastic surgery. They made an appointment with a famous cosmetic surgeon, and it was decided that my nose should be straightened, that a scar on my left leg should be covered up with a piece of skin taken from my ass and that my ears should be pulled back. I had my doubts, but they reassured me, I could change my mind up until the very last moment. In the end, though, it was Doctor F. himself who put an end to my dilemma. Two days before the operation he committed suicide." Sophie Calle

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Vidros


Os vidros levemente imperfeitos são os espelhos mais exactos.

St. Roach, | Muriel Rukeyser

St. Roach, | Muriel Rukeyser

For that I never knew you, I only learned to dread you,
for that I never touched you, they told me you are filth,
they showed me by every action to despise your kind;
for that I saw my people making war on you,
I could not tell you apart, one from another,
for that in childhood I lived in places clear of you,
for that all the people I knew met you by
crushing you, stamping you to death, they poured boiling
water on you, they flushed you down,
for that I could not tell one from another
only that you were dark, fast on your feet, and slender.
Not like me.
For that I did not know your poems
And that I do not know any of your sayings
And that I cannot speak or read your language
And that I do not sing your songs
And that I do not teach our children
to eat your food
or know your poems
or sing your songs
But that we say you are filthing our food
But that we know you not at all.

Yesterday I looked at one of you for the first time.
You were lighter that the others in color, that was
neither good nor bad.
I was really looking for the first time.
You seemed troubled and witty.

Today I touched one of you for the first time.
You were startled, you ran, you fled away
Fast as a dancer, light, strange, and lovely to the touch.
I reach, I touch, I begin to know you.

domingo, 23 de agosto de 2009

um apocalipse | Joaquim Castro Caldas

um apocalipse

Agora é que tinha graça encher campos de selva de soldados e
derrubá-los com os braços, pegar-lhes pelos capacetes e pô-los
nos sítios do globo que nos apetecesse, agarrar no ar obuses e
mísseis e espetá-los una contra os outros, empurrar tanques por
desfiladeiros, desligar centrais nucleares e bombas e amontoar
dinheiro para o derreter e queimar, cobrir o jogo de lágrimas
verdadeiras e conta gotas nos olhos dos homenzinhos armados
em grandes, os que chamam melancolia ao amor e nostalgia
à humildade, os que monopolizam e manipulam a história,
informatizam a eternidade, esquecem-nos ou esquecem-se

Joaquim Castro Caldas, in Mágoa das Pedras

Yves Klein 1928-1962

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

James Ensor (1860-1949)