agora vou-te cortar a língua para aprenderes a cantar, adília lopes
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
contos
O Príncipe dá um beijo tão forte na boca da Bela Adormecida que lhe arranca um bocado da boca. A Bela Adormecida fica tão contente por ser acordada pelo Príncipe que lhe dá um abraço tão apertado que o estrangula e se estrangula.
A Branca de Neve, a Bela Adormecida e a Gata Borralheira tomam as três juntas banho na mesma tina de zinco cheia de água morna e sais de banho. Estranho banho, dirão. Ainda mais estranho se pensarem que as três vão ficar lá até derreterem completamente como três cubos de açúcar em café ou chá.
Adília Lopes, PÚBLICO, 7 de Abril de 2002
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
homem barata
corpo / formação
corpo de formação
exagero quase
devir animal
simiesco
humano animal
transferir
de quem para o quê
homem barata
homem batata
irmã barata
irmã batata
corpo de formação
exagero quase
devir animal
simiesco
humano animal
transferir
de quem para o quê
homem barata
homem batata
irmã barata
irmã batata
a água não espelha a lua
O que me custou
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
#1
Nenhuma navalha consegue cortar as teias opacas da incerteza.
#
A onda líquida e fria é sempre a distância mais curta entre dois pontos.
#
Romper as palavras, até ficar só a pele.
Gastar a pele, até só ficar o sangue.
Mudanças
Uma data no calendário, quase apenas isso.
Enquanto dela tiver memória, será sempre mais que quase isso.
Depois das dúvidas, as quase certezas.
Depois das quase certezas, o apaziguamento.
Nunca mais nada será igual,
mas também nunca mais o seria.
A vida é uma repetição de ciclos de diferenças.
E às vezes é preciso mudar, para que tudo continue quase na mesma.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
NÓS
O peite
o peite
que a madrasta lle deu
levaba veleno nos dentes
pero tendo o pelo rapado
non lle fixo mal ningún
cando llo tiraron
espetouno no limoeiro
que chorou desde entón
froitos acedos críticas
sen vergonza
advertírana de nena
que non debía peitearse
diante dos homes
(se era transgresión pecadenta
ou ritual máxico nunca soubo)
por iso cando lle medrou o cabelo
levouno desguedellado
como os niños dos paxaros
Marilar Aleixandre, Catálogo de Venenos
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