agora vou-te cortar a língua para aprenderes a cantar, adília lopes

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Indicações cínicas.

11.11.10

tornar-se estranho
tornar-se estrangeiro

11.11.10

Pare(ser)

às vezes o que parece é
apenas o que parece

raramente o que parece é
apenas o que parece

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

#9


#9

não viu a flor que lhe ofereciam
nos olhos
ignorou todas as rosas que lhe deram
só via mãos vazias
agora sabe que os olhos alheios já lhe pertenciam
há muito

todas as rosas que não soube receber
deixaram um cheiro intenso

na distância recebe agora essas flores
na ausência sabe que agora é quase
um quase

A.L.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

escavei um buraco do tamanho do medo

parar

res
pi
rar

aprender a respirar

Parar

AL

domingo, 15 de agosto de 2010

Interrupção.

Interrupção.
o vazio volta dentro de momentos.

sábado, 23 de janeiro de 2010

princesa feia | valter hugo mãe


a princesa feia não casou mas, no tempo em que foi visitada por príncipes solteiros, querendo agradar, cortou uns palmos às pernas para ficar mais baixa e cómoda ao abraço, puxou pelos dedos para ficar com eles compridos, amassou os seios de encontro ao pescoço para subirem aos olhos da gente, rasgou os lábios para sorrir eternamente. agora, ali sentada, sozinha de amores, lembrava-se de ser impossivelmente a mulher que foi, mas os ratos passavam-lhe entre as falhas cortadas das pernas, e os dedos desjuntavam-se irremediavelmente murchos de encontro ao chão, os seios coagularam como calcificados com as marcas desorganizadas das mãos e os lábios articulavam apenas palavras de dentes, trituradas pelo osso da cabeça lentamente vertendo para fora da pele. conformada, a princesa feia, dizia à prioresa sua amiga que o vento estava louco. levantava-se instável e profundamente mortal, fechava a janela e voltava ao silêncio
(valter hugo mãe, "folclore íntimo"/ Cosmorama Edições)

Amália Bautista




Para ti nunca fui más que un pedazo
de mármol. Esculpiste en él mi cuerpo,
un cuerpo de mujer blanco y hermoso,
en el que nunca viste más que piedra
y el orgullo, eso sí, de tu trabajo.
jamás imaginaste que te amaba
y que me estremecía cuando, dulce,
moldeabas mis senos y mis hombros,
o alisabas mis muslos y mi vientre.
Hoy estoy en un parque, donde sufro
los rigores del frío en el invierno,
y en verano me abraso de tal modo
que ni siquiera los gorriones vienen
a posarse en mis manos porque queman.
Pero, de todo, lo que más me duele
es bajar la cabeza y ver la placa:
«Desnudo de mujer», como otras muchas.
Ni de ponerme un nombre te acordaste.


Amália Bautista

domingo, 17 de janeiro de 2010

o poema feio | valter hugo mãe

o poema feio
para o jamie stewart

a princesa feia não casou mas, no tempo em que foi visitada por príncipes solteiros, querendo agradar, cortou uns palmos às pernas para ficar mais baixa e cómoda ao abraço, puxou pelos dedos para ficar com eles compridos, amassou os seios de encontro ao pescoço para subirem aos olhos da gente, rasgou os lábios para sorrir eternamente. agora, ali sentada, sozinha de amores, lembrava-se de ser impossivelmente a mulher que foi, mas os ratos passavam-lhe entre as falhas cortadas das pernas, e os dedos desjuntavam-se irremediavelmente murchos de encontro ao chão, os seios coagularam como calcificados com as marcas desorganizadas das mãos e os lábios articulavam apenas palavras de dentes, trituradas pelo osso da cabeça lentamente vertendo para fora da pele. conformada, a princesa feia, dizia à prioresa sua amiga que o vento estava louco. levantava-se instável e profundamente mortal, fechava a janela e voltava ao silêncio
(valter hugo mãe, "folclore íntimo"/ Cosmorama Edições)